
Sangrento será a palavra adequada para definir o futebol argentino no ano passado. Com 14 mortes direta ou indiretamente ligadas à violência no desporto-rei, 2013 bateu recordes dos últimos dez anos, de acordo com os dados da Salvemos el Fútbol, uma organização não-governamental que combate este flagelo.
As últimas vítimas foram dois adeptos do Newell’s Old Boys, que, na noite de 16 de dezembro, após o empate com o Lanús, acabaram baleados por dois indivíduos não identificados numa moto, quando regressavam a Buenos Aires.
O problema não é novo e agrava-se à medida que o tempo passa.
«Existem debilidades institucionais nas instâncias encarregadas de aplicar a justiça, desde a prevenção do delito até à execução de sanções», escreveu Mariano Bergés, em 2004, juiz que no ano anterior havia suspendido o futebol na Argentina durante duas semanas de setembro, face à intensificação da violência. Quase dez anos depois, a situação piorou.
Se no início da década passada os conflitos envolviam as barras bravas - a versão sul-americana, mais violenta, das claques que se veem em Portugal ou noutros países europeus - dos diferentes clubes, hoje há assassinatos fruto das divergências internas de cada grupo. É uma luta por poder e dinheiro. Muito dinheiro. A imprensa local há muito que relata a promiscuidade financeira entre os clubes e as respetivas barras bravas: cedem-se percentagens das receitas de bilheteira, de transferências de jogadores nalguns casos, fecham-se os olhos ao tráfico de droga nos estádios.
A teia de influências políticas não parece ficar-se pelas pequenas instâncias. A 23 de dezembro, o Olé desvendou conversa entre dois indivíduos, um deles líder da barra brava afeta ao River Plate, referindo que enquanto Cristina Kirchner, presidente da Argentina, continuasse no poder, «nada aconteceria» a nenhum dos líderes destes movimentos. Em causa estava a atividade da barra num esquema ilegal de revenda de bilhetes, com a devida aprovação do clube. Verdade ou não, a corrupção está tão espalhada pelo país que nem os mais altos responsáveis escapam à suspeita.
Fonte: A Bola