Síndrome José Mourinho: mais um caso de contágio
Foi uma semana histórica. Certa capa de jornal colocava frente a frente os dois mais prováveis candidatos ao lugar de treinador do Porto e o respectivo resumo de carreira. De um lado, Muricy Ramalho. E, por baixo da fotografia, a legenda: «três campeonatos brasileiros e uma taça CONMEBOL». Do outro lado, Villas Boas. E, no lugar do currículo, vinha escrito: «7epocas de Mourinho». Era, portanto, o confronto entre um tricampeão do Brasil e um heptacampeão dos relatórios. Sem surpresa, ganhou o último. Como benfiquista, não posso deixar de estar preocupado e julgo que se devem tomar medidas drásticas: avançar para o despedimento imediato de Jorge Jesus e contratar a Sr.ª D. Matilde, a mulher do special one. Tem cerca de 20 épocas de Mourinho no seu palmarés. Parece-me jovem. Caso seja ambiciosa, leia os jornais todas as manhãs e prometa pintar o cabelo de ruivo, é oferecer-lhe um contrato de dois anos com mais um de opção.
Quem julga que exagero acerca das capacidades de Villas Boas não precisa de ler as reportagens da imprensa nortenha. Para se ter uma noção da importância que o novo treinador do Porto tinha na equipa de Mourinho, bastará recordar que, esta época, já sem a preciosa colaboração de Villas Boas, Mourinho ganhou apenas o campeonato italiano, a taça de Itália e a Liga dos Campeões. O leitor lembra-se certamente das célebres imagens de Mourinho agarrado a Materazzi, na despedida de Milão. Pois bem, neste momento tenho a certeza de que ambos a chorar com saudades dos relatórios de Villas Boas. «I rapporti! I rapporti!», chorava Materazzi. «Ma che saudadini!», soluçava Mourinho. «Era cosi giovani e ambizioso!», suspiravam ambos.
A culpa é do próprio Mourinho, que tem esta qualidade única. Os outros grandes treinadores do mundo não transmitem, por osmose, os seus conhecimentos ao resto da equipa técnica. Quem faz relatórios para Fabio Capello não passa a saber treinar como ele. Os adjuntos de Alex Ferguson não se transformam em treinadores geniais (como nós bem sabemos). Mas os que rodeiam Mourinho passam a perceber de futebol por contágio. São contaminados pela especialidade de special one. Pode ser o melhor treinador do mundo, mas é um perigo para a saúde pública.
Autor: Ricardo Araújo Pereira
Fonte: Jornal A Bola