As cruzes no Benfica

Antes do Real Madrid jogar em Murcia, José Mourinho ameaçou os jogadores de que estaria pronto a pôr cruzes sobre aqueles que não tivessem o rendimento desejado. Depois da goleada sofrida em Barcelona, o treinador voltou a utilizar a mesma figura de estilo, mas apesar do “massacre” de Camp Nou garantiu não ter marcado nenhum atleta. No Benfica, sem que publicamente alguém o assuma, há jogadores sobre quem paira a ameaça de uma cruz.
Durante o seu estado de graça, Jesus teve carta branca para decidir o que bem entendeu. Escolheu os jogadores que queria ter no plantel e que o Benfica deveria contratar, assim como “despachou” outros com a autoridade conferida pelos galões de campeão nacional. Na medida do possível, Vieira fez-lhe a vontade e permitiu que o poder do treinador excedesse os seus limites, pondo e dispondo, às vezes até com decisões contrárias às que o próprio presidente admitia assumir.
Depois da bonança veio a tempestade e hoje as opções tomadas por Jesus são altamente questionadas. Não apenas aquelas que ocorrem nos jogos, mas sobretudo as que foram assumidas no início da época e que constituíram o “plantel maravilha” que podia lutar pela Champions mas que afinal mal pôde chegar à Liga Europa.
Não será Jesus, por sua exclusiva vontade, a pôr as cruzes nos jogadores mas terá de ser ele a assumir o fracasso das apostas que fez - umas porque ficaram muito aquém das expectativas, outras porque estão só a fazer número não se assumindo como valor acrescentado. Sem o retorno desportivo esperado, todas elas se transformam em desproporcionados investimentos que encareceram (e de que maneira) um plantel que hoje é incomportável manter face às expetativas que o Benfica ainda pode alimentar.
É uma medida de gestão inevitável e é também um sinal claro de que Jesus perdeu os poderes que o permitiam ligar às 3 da manhã para Vieira a aconselhar (ou a exigir) a compra deste ou daquele jogador.
Autor: António Magalhães
Fonte: Record