A maçã ou a árvore
É impossível dissociar o estado das coisas do consulado de José Eduardo Bettencourt. Foi com ele que ouvimos o célebre “Paulo Bento forever”. Foi com ele que os leões viveram as trapalhadas com o contrato falhado com André Villas-Boas. Foi com ele que se assistiu a um indigno isolamento de Carlos Carvalhal. É com ele que Paulo Sérgio anda a tentar perceber se conta ou se nem por isso. Mais: para o posto de director-desportivo, Bettencourt começou por manter um apagado Pedro Barbosa, errou no casting ao escolher Ricardo Sá Pinto, mudou radicalmente ao eleger Costinha, omnipresente, sempre disposto a falar com voz grossa (mesmo quando a prudência e a diplomacia aconselham o contrário), um homem que – para os menos atentos – poderia mesmo passar por patrão do clube.
Bettencourt pecou quase sempre por excesso, desde o episódio em que desdenhou do fundo de jogadores do Benfica (para depois mostrar desejo de criar o seu) até ao outro em que elegeu o FC Porto como “modelo”. Além disso, quanto à política de jogadores, conseguiu a mais radical das trocas – da aposta numa formação que ia chegando para municiar a casa, para mitigar a fome das cofres e até para desperdiçar (Varela no FC Porto e Carlos Martins no Benfica são apenas os exemplos mais recentes e em evidência), quis dar-se o salto para o mercado puro e duro. Foi maior do que a perna, curta pela falta de dinheiro. Hoje, são os próprios sócios e adeptos sportinguistas que questionam a política de aquisições, ficando por apurar se o clube está a servir-se dos empresários ou se são estes que coordenam as aquisições e as vendas de acordo com os respectivos interesses. Basta olhar para o dinheiro gasto e para as contrapartidas apresentadas em campo. Depois, claro está, o mais fácil é culpar o treinador – e assim começam os “cemitérios”.
Acima de todos, não esqueço João Moutinho, que, num ápice, num defeso, passou de capitão e símbolo a proscrito e maçã podre. Tenho a ideia de que nenhum fruto apodrece se a árvore não o deixar cair.
Autor: JOÃO GOBERN