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Toda a informação sobre o Glorioso

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A Luz

02.11.11, Benfica 73

O Estádio da Luz é o símbolo de uma nova ideia de espetáculo desportivo, que só em parte e unilateralmente foi uma aposta ganha. A sua inauguração, há oito anos, coincidiu, por exemplo, com uma concorrência mais transparente no espetro televisivo com a entrada das televisões privadas no monopólio dos meios associados ao sistema dominante.

Neste período, o Benfica e os outros clubes grandes cresceram nas vertentes comerciais, seguindo as orientações da UEFA, e conseguiram atingir um patamar desportivo internacional. Mas a sensação de uma vida boa, moderna, agrafada à conquista da organização do Euro-2004, fez o futebol português optar por ir vivendo com uma ostentação inconsciente e num estado de euforia permanente, sempre pronto a dar mais um passo para o abismo, fazendo crescer os passivos de forma criminosa.

As pequenas alterações conjunturais foram mentindo piedosamente aos decisores e aos seguidores, simulando um estado de transformação e desenvolvimento que, na realidade, nunca existiu. O Estádio da Luz, emblematicamente apresentado como um dos recintos mais versáteis e disponíveis da Europa, só tem agenda para 5 por cento dos dias do ano, vendendo um monoproduto – como todos os outros recintos novos, cujos administradores vivem aterrorizados pela síndroma da relva dos U2, aquela que não tem conserto.

Os estádios estão para o futebol português como os fundos estruturais estiveram para o país, ao não serem aproveitados como uma via de desenvolvimento global, acabando por reduzir-se a uma imagem ilusória de modernidade, um enquadramento bonito que não permite ver com a nitidez e o distanciamento necessários as soluções para um novo modelo desportivo e de produção de espetáculos honestos.

Oito anos passaram e pouco mudou, para lá da falência da formação de jogadores portugueses em favor de uma estratégia suicidária de import-export de promitentes talentos estrangeiros. Em volta, nos estádios confortáveis, o ambiente ultrafanatizado, a falta de confiança no jogo e de respeito pelo adversário, a impossibilidade de fazer convergir as opções concorrenciais e a dependência de um sistema em que um parceiro, parasitário, se perpetua como único a lucrar – tudo permanece igual há 25 anos, quando os clubes, tecnicamente falidos, começaram a financiar-se com as migalhas de direitos televisivos, a que se juntam atualmente as sobras das apostas ilegais.

Só agora Benfica mostra-se pronto a ver-se livre desse monstro sugador, abrindo uma válvula que pode começar a libertar a indústria do futebol em novas vias comunicacionais e, com o tempo, deixá-lo progredir livre de dependências perversas e das limitações à competitividade de que tanto se queixam os clubes quando não ganham e, tendencialmente, porque ganham quase sempre os mesmos.

Ao contrário do que disse Jorge Jesus, os “políticos” que vão dirigindo o futebol há décadas têm uma enorme capacidade de resistir à mudança e às tentativas de renovação, perpetuam-se no sistema e ameaçam fazer perdurar o seu espírito imobilista, para lá da vida útil dos ainda jovens estádios. Foi mais fácil construir estádios do que limpar o jogo.

Autor: JOÃO QUERIDO MANHA

Fonte: Record