Lá está ele, outra vez...” pensaram os benfiquistas quando perceberam que Jorge Jesus tinha sentado Melgarejo, Bruno César e Rodrigo para lançar Luisinho, André Gomes e Ola John. À beira de um ataque de nervos, foram, porém, forçados a mais uma vénia a um treinador que lhes respondeu com nova bofetada de luva branca. Os seus efeitos serão nulos, pois no próximo jogo lá estarão, como sempre, a olhar com desconfiança para as opções de um génio incompreendido feito treinador.
Para a maioria, e num ritmo de semana sim, semana não, Jesus é o verdadeiro eixo do mal, a origem de todos os pecados. Ingratos, digo eu. Esquecem-se, por exemplo, do bom par de anos que viveram em agonia antes da chegada de um treinador com nome de salvador? Jesus é culpado, sim, mas porque os habituou mal. Foi campeão na época de estreia e deu à nova Catedral algo que só a antiga conhecia: bola prà frente e futebol espetáculo. Bom futebol, o tal da nota artística, que galvaniza adeptos e mobiliza multidões.
Ficou-se por ali? É verdade. Lidera esta Liga mas perdeu as últimas duas. Porém, contra factos... ainda há argumentos: esquecem-se os mais seletos que o primeiro campeonato perdido foi ganho por um FC Porto que não se conhecia tão avassalador desde o de Mourinho. É verdade que o segundo fracasso, o da época passada, pode encontrar justificação nos modelos e opções escolhidos em Guimarães e Coimbra, quando a liderança era tão certa quanto assente nos 5 pontos de diferença para os dragões. Mas terá sido esse o único sistema a decidir? Pois.
Jesus tem problemas na comunicação? E então!? É pouco dado à relação com os jogadores, como sussurram alguns proscritos? Deve ser o único, deve... É teimoso que chegue para aguentar Robertos e Emersons ao ponto de comprometer objetivos? É, mas quanto teve Bento de ouvir até ganhar um dos melhores guarda-redes da Europa? Jesus só ganhou um campeonato e três Taças da Liga? Herege... Campeonato à parte, só estes últimos “trofeuzitos” dariam um jeitão para mascarar a crise na casa do vizinho.
Por falar “neles”, termina hoje a comissão de serviço de Oceano, o enésimo treinador atirado à fogueira de Alvalade. Pelo amor à causa, merecia deixar o comando com um triunfo, mas se fosse só por isso, Bettencourt ainda era o presidente e Sá Pinto o treinador... Vem aí Vercauteren. Pode ser que traga mais cabeça e menos coração.
Autor: ANTÓNIO ADÃO FARIAS
Fonte: Record