A SAD do Benfica não equaciona, nesta altura, ir às compras ou perder algum jogador no mercado de Inverno, apesar dos tempos de maior contenção financeira.
Isso mesmo frisou Domingos Soares Oliveira, no final da Assembleia Geral de accionistas da sociedade anónima desportiva (SAD) do clube, que aprovou as contas do exercício de 1 de Julho de 2010 a 30 de Junho de 2011 – prejuízo de 7,8 milhões de euros – por larga maioria.
O administrador-executivo do Grupo Benfica recusou, ainda, precisar o valor dos estragos provocados no Estádio da Luz após o derby de sábado, com o Sporting.
- As contas da SAD do exercício de 2010/11 foram aprovadas por esmagadora maioria. Há condições para retomar o ‘ciclo virtuoso’, como dizem no relatório?
- O ciclo virtuoso é algo que nunca quisemos dar por terminado, nem nunca terminará! É um processo em que os resultados desportivos conduzem a resultados económicos e os resultados económicos permitem continuar a política desportiva. O que este relatório diz é que tivemos, pela primeira vez nos últimos três anos, resultados operacionais positivos. Apresentámos um resultado operacional superior a 7 milhões de euros. Pela primeira vez, ultrapassámos os 120 milhões de euros, em termos de receitas, o que é muito significativo... e é a única forma de continuarmos a poder crescer. Num ano de contenção e em que, do ponto de vista desportivo, as coisas não correram tão bem como desejávamos [2010/11], continuar a crescer em termos de receitas é positivo. Mantendo esta política, vamos poder retomar esse ciclo virtuoso, com os resultados desportivos e económicos que todos os benfiquistas desejam.
- Um activo estimado em 410 milhões de euros, um passivo da SAD estimado em 395 milhões de euros. Estes números assustam as pessoas. E a vós?
- Há duas coisas que têm que ser encaradas em termos de passivo. Uma, é aquilo que é o passivo exigível, outra o que é o passivo não exigível. O nosso passivo tem-se mantido ao mesmo nível de anos anteriores. Teve um ligeiro crescimento, de cerca de 1 por cento, mas não tem tido grandes variações. E é importante dizer que neste passivo estão situações que se os clubes pagassem, porque clube algum paga a pronto, mas, repito, que se os clubes pagassem a pronto, este passivo já estaria muito reduzido com as operações que fizemos. Portanto, apesar de constarem alguns valores no passivo relacionados com determinado tipo de encargos, poderemos ter esses encargos já bastante reduzidos se, efectivamente, pudéssemos receber tudo a pronto. Mas hoje, ninguém paga a pronto.
- O Benfica está salvaguardado das maiores taxas de juro que a banca pede agora, para conceder crédito?
- Não. O Benfica não tem capacidade para ter uma situação de excepção relativamente ao que é o mundo empresarial. Aquilo que afecta as empresas hoje em dia, que é um crescimento das taxas de juro, que é uma maior dificuldade no acesso ao crédito, também afecta o Benfica. Aí, também não somos diferentes e teremos que, obviamente, encontrar, como sempre encontrámos, as melhores soluções para fazer face a uma situação que é difícil para nós como é difícil para os portugueses e para todas as empresas.
- O que se altera na política de remunerações, um dos pontos aprovados nesta assembleia?
- Nada. É exactamente a mesma política de remunerações que em anos anteriores.
- Um dos pontos eram os prémios por objectivos. Se a equipa de futebol vencer títulos, o senhor, como administrador da SAD, passa a ganhar mais?
- Isso depende dos critérios que são fixados em cada ano.
- Mas esse critério foi fixado nesta AG de accionistas?
- Os critérios são fixados pela Comissão de Remunerações, aqui aprova-se uma política. Depois, existe uma Comissão de Remunerações que aprova em concreto aquilo que é a situação de cada um dos administradores. Reforço um aspecto importante: todos os administradores que são simultaneamente membros dos órgãos sociais do Benfica, e na SAD temos três, são administradores que, pelos próprios estatutos do Benfica, não podem ser remunerados.
- Há ‘fair play’ financeiro neste Benfica?
- Tem de haver. Esse é um aspecto importante. Temos consciência de que o facto de hoje ser mais difícil aceder ao crédito, e que o facto de hoje, simultaneamente, estar a ser exigido pela UEFA, e muito bem, que todos os clubes europeus cumpram critérios financeiros, vai exigir que todos os clubes, e a SAD do Benfica não é diferente, sejam mais rigorosos, do ponto de vista daquilo que fazem e dos resultados que apresentam. Temos consciência de que haverá que subir receitas, e subir receitas, nesta altura, pode parecer um contra-senso. Mas todos sabem que, no nosso caso, existe uma componente muito particular, dos direitos de transmissão televisiva, que está a ser negociada, e existe a perspectiva de podermos subir nessa matéria. Mesmo num segundo aspecto, que é a venda de jogadores. De há muito tempo que as principais SAD em Portugal integraram as operações com a venda de jogadores como operações do seu negócio. Vamos continuar a fazê-lo, teremos de continuar a ser muito criteriosos do ponto de vista daquilo que são os nossos investimentos. Se não há hoje a mesma capacidade financeira que havia no passado, teremos de ser, obviamente, mais restritivos naquilo que vamos fazer, ou mais selectivos. O nosso trabalho, do ponto de vista da prospecção, tem de ser muito importante. Agora, que vamos cumprir o que está no plano financeiro, vamos! E digo mais: somos o único clube em Portugal que está a participar, já, este ano, numa experiência piloto com a UEFA, em que querermos aplicar a nós próprios aquilo que são os mecanismos do Financial Fair Play, para depois anteciparmos em um ano o que serão as exigências da UEFA, a partir de 2012/13.
- Haverá compras em Janeiro? E vendas do plantel?
- Não temos nada previsto nesse aspecto. Com honestidade, naquilo que tem sido discutido no Conselho de Administração, não têm sido discutidas compras e vendas.
- Vê essa nova parametrização financeira que a UEFA exige aos clubes que participam nas provas europeias a impedir outros clubes e SAD, como Sporting, FC Porto, Nacional ou Marítimo de participaram nessas competições, ou crê na capacidade dos dirigentes?
- Não. Com sinceridade, acredito que a capacidade de gestão que existe nas SAD portuguesas é muito boa. Considera que há profissionais competentes, naturalmente, na SAD do Benfica mas também nas SAD do FC Porto e na SAD do Sporting. Acredito que, em cada caso, será possível encontrar as melhores soluções. Não tenho dúvidas algumas de que todos os clubes e SAD portugueses cumprirão os mecanismos do Financial Fair Play.
- Trará uma maior moralização ao futebol?
- Não entendo a questão da moralização como questão que tenha de ser reequacionada. Estamos a fazer um bom trabalho, as SAD estão a fazer um bom trabalho, pelo que não se coloca aqui a questão de ter de haver uma maior moralização. Estamos todos moralizados.
- Mudando de assunto: já estão contabilizados os estragos no topo norte, após o derby de sábado?
- A minha promessa é de não falar, aqui, sobre nada do que se passou no fim-de-semana. E não me compete, certamente, a mim, falar sobre o assunto.
- Mas é uma questão financeira...
- Não só.
- Mas já sabem qual o valor exacto dos estragos?
- Não vou falar sobre o assunto.
Fonte: A Bola