“ Queremos ir longe na Champions ”
Vamos falar um pouco da sua infância. Lembra-se de como é que cresceu, como foi a sua aprendizagem na Argentina?
Vou-me sempre lembrar desse momento, saber como consegui aquilo que sempre quis, que era jogar na primeira Divisão. Comecei a jogar logo aos quatros anos. Tive a oportunidade de vir jogar para a Europa, era muito jovem, mas era bom para mim e para a minha família e isso foi um factor importante.
Desde pequeno que sente um gosto especial pelo futebol?
Sempre lutei muito para ser jogador de futebol e também é importante que os nossos pais nos apoiem e eu tinha isso. Segui esse sonho e consegui o que todos os rapazes sonham desde pequenos.
Qual foi a importância dos seus pais para a sua evolução no futebol?
Em pequeno queriam que eu estudasse mas não se importavam só com isso, também tinha tempo para jogar futebol, então eu fazia as duas coisas. Chegou um momento em que tinha de decidir se seguia pelo futebol ou se continuava a estudar sem saber se tinha futuro no futebol. Nesse momento, falei com os meus pais e disse que queria continuar a jogar.
O seu pai percebeu que ia ser um futebolista profissional? Incentivou-o?
Os meus pais apoiaram-me sempre, até porque o meu pai também jogou futebol, como tal, era natural que eu me tornasse jogador de futebol.
Como se recorda da sua vida na Argentina, enquanto criança? Era uma vida boa?
Quando era pequeno, a minha família trabalhava desde cedo até à noite mas, felizmente, nunca nos faltou nada, sempre me deram tudo. Hoje em dia, devido a esse esforço por parte da família, posso ter a vida que tenho.
Há quantos anos deixou Rosário para vir para a Europa?
Tinha 18 anos. Foi uma decisão muito importante, eu era muito novo, os meus pais tinham que deixar o seu emprego e era uma decisão muito difícil.
E a decisão de sair da Argentina para a Europa, foi uma decisão ainda mais difícil ou era um sonho que sempre teve?
Foi uma decisão muito difícil, porque não sabia o que me esperava na Europa, não sabia nada disso. Nunca tinha saído de Rosário, então não sabia como ia ser. Apesar disso, foi uma boa decisão vir para a Europa e correu bem.
Começou a sua carreira no Newell's Old Boys. O que é que recorda desse clube?
Esse foi o clube que me deu reconhecimento na Europa. Conseguimos um título em 2004. Depois, fui para o Racing de Santander e continuei a integrar a selecção juvenil, desde os 13 anos que jogava na selecção.
O Garay sempre foi defesa?
Quando tinha 13 anos era avançado.
O facto de ter jogado como avançado foi importante para si?
Sim, mas é diferente jogar como avançado num campo de sete e num campo de onze. Mas deu-me imenso jeito, apesar de serem posições diferentes.
Depois do Newell's Old Boys veio o Racing de Santander, um salto muito grande e uma realidade muito diferente. Como foi o início?
Foi muito difícil. Era uma cultura muito diferente, não sabia se ia correr bem ou se ia correr mal. Deram-me a oportunidade de trazer a minha família e isso era muito importante.
Que idade tinha quando chegou a Espanha?
Tinha 19 anos.
Recorda-se de algum conselho que lhe deram na Argentina para que a chegada a Espanha fosse mais fácil?
Disseram-me todos o mesmo. Sabiam que ia ser difícil, mas todos confiavam que ia correr bem.
A sua melhor época no Racing de Santander foi quando fez 59 jogos, marcou 12 golos, coisa que não é habitual num defesa...
Sei que não é muito normal um defesa marcar tantos golos, mas nessa temporada tínhamos um avançado que tinha mais de dois metros e cada bola que recebia, como era tão grande, faziam-lhe muitas faltas, muitos penalties e muitas faltas. Tive a sorte de marcar muitos desses penalties.
No Benfica também já está a treinar as faltas e os penalties?
Os penalties é mais complicado por causa do Cardozo, mas as faltas treino muito e, apesar de ainda não marcar muitas faltas perto da área, continuo a treinar.
Considera-se um especialista?
Não me considero um especialista, mas penso que o importante é ter confiança para marcar as faltas. Nesse sentido, tenho muita confiança e, por isso, continuo a treinar.
No momento da concentração, o que é mais importante para a bola entrar na baliza?
É complicado porque o guarda-redes já conhece o jogador e já sabe para onde, normalmente, ele atira a bola. Quando queremos mudar de sítio para rematar é complicado, porque temos o “nosso” sítio. Mas se já rematámos muitas vezes para o mesmo sítio e marcámos sempre temos que mudar ou esperar que o guarda-redes se atire.
Depois da excelente época no Racing de Santander, em 2008 surge o convite do Real Madrid. Como é que recebeu essa notícia?
Foi uma grande satisfação para mim, porque ter esse sonho desde pequeno e conseguir o que consegui, foi muito importante.
Chegar ao Real Madrid é chegar ao mais alto nível do Futebol mundial?
Penso que sim. O Real Madrid é considerado o melhor clube do Mundo, não só pelas pessoas, mas também pela FIFA. Partilhei o balneário com grandes jogadores a nível mundial.
Porquê é que o Real Madrid não consegue chegar ao título com tão bons jogadores?
Penso que o Real Madrid tem jogadores incríveis a nível mundial, têm muita individualidade. Não sei se deveriam ser um pouco mais como uma equipa. Penso que lhes falta um pouco disso, serem mais equipa.
Pensa que isso vai ser conseguido com a chegada do José Mourinho?
Penso que já o conseguiu. O Real Madrid é uma equipa muito poderosa, muito graças a ele. É um treinador muito competitivo, um vencedor.
Teve em Madrid dois colegas portugueses, Pepe e Ricardo Carvalho, como foi treinar e conviver com eles?
São duas pessoas incríveis...
Eu falo deles porque estão na mesma posição que o Garay, são defesas...
Há sempre o desejo de jogar, todos queremos jogar. Fora de campo são pessoas normais, somos amigos.
E com o Cristiano Ronaldo.. que tal é ele no balneário?
É boa pessoa. Somos todos colegas, dou-me bem com ele como me dou com o Pepe e com o Ricardo Carvalho.
Ganhar a “Copa del Rey” em Espanha foi o momento mais alto da sua carreira. Como é que se recorda desse título?
É sempre importante ganhar um título no Real Madrid, porque o clube tem que ganhar títulos. Ganhar a “Copa del Rey” e ainda por cima ao Barcelona, o grande rival, foi uma coisa incrível.
Agora que já conhece a realidade do Benfica, que diferenças há entre o Real Madrid e o nosso Clube?
O Real Madrid é uma grande equipa, mas o Benfica também é. Quando cheguei ao Clube, a primeira vez que jogámos foi em casa de um rival, frente ao Gil Vicente, e o campo estava cheio de adeptos do Benfica, coisa que, em Espanha, não se vê. Só se vê um sector com três ou quatro mil pessoas que está cheio, mas não todo o campo.
Vamos falar um pouco da Selecção da Argentina onde, em 2007, o Garay fez a sua estreia. Foi um sonho tornado realidade?
Sim, sem dúvida. Desde pequeno que sonhava em jogar na Selecção e esse momento muito bonito porque tinha conseguido tudo o que havia sonhado. Joguei ao lado de jogadores com uma grandeza mundial.
O que se recorda desse jogo de estreia?
O que recordo desse jogo foi o estar com outros jogadores. Foi a minha estreia na Selecção principal, estava tranquilo e o jogo até correu bem.
Quem era o seu colega da defesa?
Era o Burdisso e jogou muitíssimo.
Em 2008 atingiu o ponto mais alto na Selecção. Como Sub-23 foi Campeão Olímpico pela Argentina. Foi esse o momento em que apareceu para o Futebol Mundial?
O primeiro momento importante foi o Mundial de Sub-20, na Holanda, que me marcou muito, pois tínhamos uma equipa muito boa, com Messi e Aguero. Depois, ser Campeão Olímpico pela Argentina, em Sub-23, foi um sonho tornado realidade por parte dos jogadores.
Quais são, a partir de agora, os seus objectivos na Selecção da Argentina?
Tenho sempre a ambição de jogar pela Selecção, representar o meu país. Neste momento estamos a disputar o apuramento para o Mundial de 2014 e é algo onde quero estar. Todavia, primeiro tenho de jogar e vencer no Clube para poder ser chamado. É muito importante estar a jogar no Benfica para que o seleccionador me chame.
Porque é que o Messi quando joga pela Argentina não o faz tão bem como no Barcelona?
Julgo que o Messi pode jogar com a mesma qualidade no Barcelona e na Selecção. Ele dá tudo pela Selecção, porque está a representar o seu país, mas são muitos jogadores que jogam, cada um num sistema táctico pelo seu clube.
Antes de vir para o Benfica falou com Di Maria?
Quando se começou a falar na possibilidade de eu vir para o Benfica, ele disse-me que iria ser bom para mim, muito importante porque poderia jogar mais. Falou-me também da cidade e disse que era muito bonita.
E como surgiu o convite oficial do Benfica?
Quando os contactos ficaram mais fortes eu estava na Argentina a disputar a Copa América. Antes da partida com o Uruguai, nessa semana, disseram-me que estava tudo resolvido com o Benfica e que só faltava eu aceitar.
O que é que sentiu nesse momento?
Certamente, percebi que era o melhor para mim. Assinei, desejaram-me uma boa estreia como jogador do Benfica e que fosse muito feliz.
Como é que foi a sua adaptação Benfica? Ao Clube, ao treinador e aos adeptos?
Correu muito bem. Ajudou-me o facto de haver argentinos e sul-americanos e, assim, as coisas ficam mais fáceis. Com os adeptos tudo tem corrido bem, eles têm-me dado bastante carinho e ajudam muito a equipa em casa ou fora. Na verdade, dou-me bem com todos e estou contente.
O apoio dos adeptos surpreendeu-o?
Sim, porque na 1ª jornada do Campeonato, no estádio do Gil Vicente, todas as pessoas eram do Benfica e a qualquer estádio onde vamos há um sector com duas ou três mil pessoas só para os adeptos do Benfica.
Falou num estádio difícil para os “encarnados”. Acabámos com um empate. Como é que isso aconteceu?
Havia muitos jogadores novos, mas este jogo serviu para mostrar que não haverá jogos fáceis e que vamos ter de lutar em todas as partidas. Porém, temos uma equipa muito boa.
Sente que, agora, o seu lugar de defesa central é indiscutível?
Não. Ainda existem muitas partidas para jogar e tenho de continuar a trabalhar para melhorar e merecer a confiança do treinador que é muito exigente.
Como é o seu entendimento com Luisão?
Damo-nos bem. Já o conhecia da Selecção do Brasil e do Benfica. Entendemo-nos muito bem e isso é muito bom para a equipa.
E com os outros colegas da defesa? O Jardel e o Miguel Vítor?
Também corre muito bem. Quando chega o momento do jogo todos queremos estar no onze inicial e trabalhamos durante a semana para merecer a confiança do treinador, mas dou-me bem com todos.
Sente que a sua vinda para o Benfica foi um relançamento da sua carreira desportiva?
Sabia que iria ser importante vir para o Benfica e, nessa altura, falei com a minha família e com o meu representante e decidimos que seria bom para mim, pois necessitava de jogar. Assim sendo, acho que a decisão foi acertada.
Os seus objectivos, num futuro próximo no Benfica, passam por fazer o quê?
Tenho quatro anos de contrato e estou muito feliz. Espero jogar, porque é muito importante, quero que quem está do meu lado se sinta bem aqui e, claro, cumprir o meu contrato.
Quando joga no Estádio da Luz e o vê cheio que tipo de pressão sente?
No jogo frente ao Manchester United, em que o Estádio estava cheio, não havia pressão negativa, mas sim positiva.
Apesar de estar no Benfica há pouco tempo, qual o momento que mais o marcou?
Penso que o dia-a-dia. Todo o convívio com os colegas, com o treinador...
O que é que significa para si vestir a camisola do Benfica?
Sempre que visto esta camisola sei que a tenho que defender para ajudar os meus colegas e dar alegrias a estas pessoas que tanto nos apoiam quando jogamos no Estádio da Luz ou fora.
É feliz aqui?
Sim, muito. Um jogador é feliz quando joga e quando a pessoa com quem estamos, neste caso a minha mulher, está feliz também. Isso faz-nos ficar ainda mais felizes.
O que é que o Garay tem a dizer aos adeptos, agora que se aproximam jogos importantes?
Sexta-feira temos um jogo importante [ndr: frente ao Portimonense para a Taça de Portugal] e depois, terça-feira, temos o jogo da Liga dos Campeões. Queremos vencer ambos e, caso tal aconteça, podemos passar às próximas fases. Somos uma grande equipa, temos que vencer todos os jogos, é esta a mentalidade de todos os jogadores que entram na equipa, seja em que competição ou frente a que equipa for.
O Benfica pode chegar longe na Liga dos Campeões?
É isso que todos queremos e penso que temos equipa para o fazer. No jogo frente ao Manchester United merecíamos vencer mas são coisas do futebol. Esperamos continuar a fazer boas exibições.
Há pouco tempo jogámos frente a um rival, o FC Porto, como é que sentiu a equipa e o próprio rival?
Estes jogos são clássicos, são diferentes, são únicos. Foi um jogo muito renhido, qualquer das equipas podia ter ganho, mas empatámos. Defendemos bem e o FC Porto é uma equipa complicada e difícil de ganhar, mas quando jogarmos em casa vamos fazer tudo para vencer.
A Liga portuguesa é competitiva?
Sim. É muito física, não vejo uma grande diferença com a Liga espanhola.
E quanto à adaptação a Portugal? Do que é que mais gosta?
Sinto-me bem, a cidade é muito bonita e gosto muito de cá viver. Já conheci vários sítios e ainda me faltam conhecer muitos mas, pelo que já conheci, têm coisas muito bonitas. Gosto, principalmente, da tranquilidade da cidade.
Fonte: Jornal O Benfica