Dirão os do costume que é fácil pregar de fora, quando se está longe da gigantesca pressão de hora e meia que equivale a uma final europeia. Dirão esses e outros que a defesa que aqui promovo terá sobretudo a ver com a equidistância a que me mantenho das duas equipas portuguesas que, com inteiro mérito, vão entrar em campo mais logo na capital irlandesa. Não costumo perder tempo com quem pensa pequeno e ainda menos com quem faz questão de raciocinar por métodos tortuosos – e, infelizmente, são seitas desse calibre que poluem muito o mundo do futebol.
Mantenho aquilo que já disse noutro quadro: espero um bom jogo de futebol, afinal de contas a única resposta desejável a este quadro histórico (e dificilmente repetível) que é dispormos de equipas portuguesas de ambos os lados da barricada de uma final europeia. Se é verdade que as nossas competições internas não podem ombrear com as de outros países – mais ricos, mais populosos, mais organizados, menos periféricos –, não é menos certo que esta proeza pode obrigar os amantes do futebol a olhar para nós de outra forma, e não apenas como mercado abastecedor de craques que, sendo nativos lusitanos ou sul-americanos em trânsito, acabam por amadurecer e crescer aqui, adaptando-se inclusivamente às leis exigentes do futebol europeu, para depois irem render para outras paragens. Não nos favorecem os orçamentos, nem na bola nem no resto. Mas é sabido que, em múltiplas ocasiões, se descobrem antídotos para o poder do deus-dinheiro e, com trabalho, disciplina, talento e alma, ainda se consegue contrariar a fria lógica empresarial que poderia já dominar por inteiro o futebol.
Em Dublin, FC Porto e Sporting de Braga defenderão orgulhosamente as respetivas cores. Têm trunfos e têm craques para fazer brilhar. Mas gostava que não se esquecessem que também representam Portugal e podem, com uma boa partida e uma boa estada, retirar enormes dividendos para o futebol local. Terá a UEFA deixado entender que uma final com um só país é uma festa meio estragada. Julgo que a melhor resposta, a nossa possibilidade de estragar a festa por completo, é um jogo que fique na memória de muitos, a juntar ao comportamento de duas massas adeptas que possa ser relembrado por todos. Que ganhe o melhor e que sejam ambos muito bons, antes, durante e depois.
NOTA – Ser ridiculamente pequeno, na grandeza – poderia ser esta a frase para definir Jorge Nuno Pinto da Costa, que se prepara para mais uma final europeia e não consegue libertar-se da obsessão Benfica, desta vez recuperando a mão de Vata. Qualquer livro de Psicologia Elementar explica – é complexo de inferioridade, recalcado. Só não consegue explicar porquê. Nem indicar cura. Já vai tarde.
Autor: JOÃO GOBERN
Fonte: Record