uís Filipe Vieira (LFV) anunciou publicamente ter pedido a Jorge Jesus que apresentasse um relatório sobre as necessidades que o treinador considera fundamentais para regressar ao êxito na próxima época. O presidente do Benfica quer um documento escrito e disse-o para todos ouvirem. Um relatório pode ser, até, uma ferramenta importante de trabalho, mas não era preciso tornar o pedido público. Principalmente quando está em equação uma relação de tão grande proximidade. Começou o esvaziamento estratégico de Jesus. Preto no branco: LFV deixou de depositar total confiança naquele que foi, em dois anos, o seu treinador de eleição. Pode aceitar-se, até, a perda do campeonato, pode aceitar-se o segundo lugar, mas permitir que o FC Porto virasse o 0-2 na Taça de Portugal, em pleno Estádio da Luz, é algo que, convenhamos, custa muito a engolir. E, por isso, o “voto de confiança” parece meramente circunstancial. Não vem aí nada de bom para a estabilidade do Benfica.
São todos responsáveis, e parece haver noção disso. Luís Filipe Vieira, a SAD do Benfica, Rui Costa, Jorge Jesus e os mais próximos colaboradores de toda a estrutura foram ultrapassados pelos acontecimentos. A dúvida adensou-se até ao momento em que se percebeu que a força do FC Porto se fazia sentir, essencialmente, dentro do campo. E, também, no confronto direto.
Se, pelas próprias palavras de LFV:
1 – “Criámos demasiadas expectativas”;
2 – “As celebrações do título distraíram-nos”;
3 – “Não nos preparámos convenientemente para a Supertaça”;
4 – “Plantel foi insuficiente”;
5 – “Vamos ser muito mais rigorosos nas aquisições”;
6 – “Devíamos ter feito o trabalho de casa de outra maneira”;
7 – “Dizer antecipadamente que vamos ser campeões não pode continuar”...
... apetece, então, perguntar: é aceitável que um clube com a dimensão do Benfica e o nível de investimento realizado pela SAD cair numa situação típica de uma agremiação amadora? O presidente fez o diagnóstico:
a) Mau discurso;
b) Distração;
c) Impreparação;
d) Insuficiência;
e) Pouco rigor.
Étudo isto que não se admitiria razoável, ao cabo de 10 anos de “vieirismo”. Tudo o que não pode acontecer para quem investe, em aquisições, nas duas últimas épocas, cerca de 70 M€ e não se encontra muito longe de um passivo consolidado de 400M€. O “plano de Vieira” sofreu grave revés. Não foi apenas a não renovação do título. Foi o reforço da confiança do FC Porto.
Jorge Jesus alavancou o valor de mercado de vários jogadores em muito pouco tempo, como nenhum outro treinador havia conseguido nos últimos largos anos. O “deslumbramento coletivo” conduziu, rapidamente, a uma situação de “distração competitiva” e, depois, ao descontrolo. Por essa razão, o “Relatório Jesus”, em boa verdade, nesta fase, deveria conter uma simples declaração: “Caro Luís, sensibilizado com o teu puxão de orelhas público, só tenho uma coisa para te dizer: viva o Benfica!”
Autor: RUI SANTOS
Fonte: Record