No dia em que Eusébio celebra o 69.º aniversário, A BOLA publica entrevista com Carlos Fragateiro, ex-director dos teatros da Trindade e do D. Maria II, agora professor da Universidade de Aveiro. Tem em marcha acelerada a preparação de um espectáculo multidisciplinar que irá dirigir sobre a vida de Eusébio. Serão novas vidas para a vida já lendária do “rei”.
- A peça de teatro Eusébio, a estrear sensivelmente dentro de um ano - espectáculo que aliás terá A BOLA como jornal oficial - , vai funcionar de que forma e com que simbolismo?
- Primeiro, homenageará Eusébio como figura de referência do mundo português. Segundo, explorará a vida e a obra do jogador de uma perspectiva artística, estética, o trabalho do corpo, o movimento. Sabia que o instituto de biomecânica de Moscovo ainda tem como referência o movimento do remate de Eusébio? O Eusébio, disse-mo ele em conversa, se não tivesse sido jogador provavelmente até teria sido bailarino! Todos os seus movimentos eram para fotografar, para coreografar. Tal como acontece já hoje com Cristiano Ronaldo. A terceira questão terá a ver com a valorização do desporto, particularmente do futebol, na cultura e na identidade do mundo falado em português, não apenas de Portugal.
- Como assim?
- Repare, toda a peça que temos em preparação irá ter como pano de fundo o jogo de Portugal com a Coreia do Norte, no Mundial de 1966, aquele dos 5-3, da reviravolta. Esse exemplo de superação é vulgar e às vezes depreciativamente conhecido por desenrascanço. Eusébio marcou quatro golos e liderou a reacção portuguesa depois de, ao intervalo, o treinador Otto Glória lhes ter dito 'Agora não quero saber de vocês para nada, agora desenrasquem-se!'. No meu entendimento, Eusébio não é apenas uma referência do nosso passado, mas sim uma inspiração para o nosso presente e futuro. E o futebol é um óptimo exemplo de escrutínio permanente, de pressão, de avaliação. Homens como Mourinho devem servir de modelo a outros sectores, a outros modelos de gestão e política que estão absolutamente falhados. Mourinho é uma homem da nossa selecção nacional.
- Da nossa selecção nacional?
- Sim, não me refiro a uma equipa desportiva, mas a uma equipa de melhores, dos melhores nas suas áreas. De gente como a cientista Elvira Fortunato ou o neurocirurgião António Damásio, de gente de elite, inteligente, capaz. Portugal nos últimos anos tem entrado numa espiral de domínios fracos, de gente que não sabe mandar, sem criatividade, sem inspiração, gente que se limita a tomar conta dos outros, gente incapaz de ter a tal capacidade de superação, o tal desenrascanço, gente que não consegue prever os problemas e muito menos resolvê-los. E o jogo de Portugal com a Coreia do Norte é o exemplo de um problema bem resolvido por Portugal.
-Até onde chegará esta peça sobre Eusébio?
- Ao mundo, esperamos. Temos tudo acordado com Eusébio e os seus representantes e acreditamos que poderá estrear dentro de sensivelmente um ano. Ainda não temos sala. Queremos que chegue a todo o lado onde se fala português. E daí a necessidade de parcerias que o permitam, como a que temos com A BOLA. Mas o trabalho terá três perspectivas: a portuguesa, a moçambicana e a brasileira. Queremos tocar os vértices deste triângulo.
Fonte: A Bola