A camisola da selecção espanhola não é tecido desconhecido para Roberto e Javi García. Separados por apenas uns meses de idade, os dois futebolistas cresceram quase a par nas equipas jovens da Roja, desde os sub-17 até aos sub-21, enquanto defendiam, nos clubes, as cores dos rivais Atlético e Real Madrid. Agora homens feitos, os dois espanhóis do Benfica correm atrás do sonho de representar a equipa que se sagrou campeã mundial este ano e europeia em 2008. E têm ambos motivos para acalentar essa esperança, porque é o próprio seleccionador espanhol a dizê-lo, por intermédio de O JOGO. O experiente - e cavalheiro - Vicente del Bosque recorda, aliás, que já conhece Roberto e Javi García há bastante tempo, praticamente desde que os dois eram adolescentes, encontrando-se atento ao que têm feito no campeão português. "São jogadores que conheço há muito tempo, desde pequenos, desde que eram muito jovens. E estou naturalmente a acompanhar a sua evolução e os seus desempenhos no Benfica", afirma, a O JOGO, o homem que no último Verão cometeu a proeza de levar a Espanha ao seu primeiro título mundial, na África do Sul.
Del Bosque não tece estas considerações na lógica do politicamente correcto, uma vez que recorda de imediato a lei de imensa oferta para poucas vagas que se aplica à selecção espanhola, mas faz questão de salientar que, apesar da concorrência, Roberto e Javi García são unidades a ter em conta nas respectivas posições. "Todos sabem que temos uma concorrência muito grande na selecção de Espanha, mas claro que eles os dois têm potencial e nível para ambicionar um lugar. Não é nada que não esteja ao alcance deles", assinala o treinador natural de Salamanca (acaba, curiosamente, de fazer 60 anos, no dia 23). Del Bosque entende mesmo que tanto o guarda-redes como o trinco da equipa da Luz só confirmam a qualidade que já lhes era reconhecida no país vizinho e não foram obrigados a mudar de espaço para se afirmarem, até porque, reforça o sábio técnico, os dois teriam lugar "em qualquer equipa" da liga espanhola, aquela que é de forma quase unânime considerada a melhor de todo o planeta: "Não tenho dúvidas disso. Tanto o Roberto como o Javi poderiam jogar perfeitamente em qualquer equipa de Espanha."
"Gosto da capacidade de trabalho dos dois"
Outra prova de que Del Bosque não fala mesmo para agradar, estando realmente a par do dia-a-dia dos benfiquistas, é a alusão ao início tremido de Roberto, cujas capacidades chegaram a ser postas em causa. "Teve dificuldades no princípio, mas agora está muito bem", constata o seleccionador espanhol, estendendo o elogio ao camisola 6, um dos pilares do título que os encarnados conquistaram em 2009/10 e um jogador que saiu da cantera do Real Madrid, onde Del Bosque trabalhou anos e anos. "O Javi adaptou-se muito bem e é uma das referências da equipa", analisa Del Bosque, revelando que o compromisso é uma das características que mais aprecia nos dois futebolistas encarnados: "Gosto muito da capacidade de trabalho de ambos."
Vaga como terceiro
Roberto tem 24 anos e chegou esta época ao Benfica, contratado por 8,5 milhões de euros ao Atlético de Madrid. Natural da capital espanhola, cresceu na cantera dos colchoneros, somando internacionalizações desde os sub-17 até aos sub-21. Neste escalão, no qual soma seis encontros, concorreu com Asenjo, que mais tarde reforçou o Atlético de Madrid, roubando-lhe espaço, e Adán, terceiro guarda-redes de Mourinho no Real Madrid. Neste momento, Roberto não tem hipóteses de pensar na titularidade na Roja, estatuto que pertence a Casillas, mas o mesmo não se aplica a um lugar na reserva do guardião merengue - à frente do camisola 12 encarnado estará ainda Valdés, enquanto Reina, terceiro na hierarquia, começa a perder força. E é por aí que Roberto poderá entrar.
Sombra de Busquets
Javi García, 23 anos, terá dificuldades para pensar na titularidade na Roja, onde a sua posição é presentemente ocupada por Sergio Busquets, do Barcelona. Mas embora apresentando um estilo mais físico, o trinco natural de Múrcia e formado no Real Madrid estará numa segunda linha de nomes capazes de fazer sombra ao jovem craque blaugrana - tanto que se chegou a admitir a sua inclusão na lista de 23 para o Mundial da África do Sul. Javi García, que rumou à Luz no Verão de 2009 por 7,5 milhões de euros, iniciou-se nas selecções espanholas nos sub-17, tendo sido campeão europeu de sub-19, em 2006, na Polónia. Piqué, Mata e Jeffren eram outros dos titulares dessa equipa que se cruzou com Portugal - de Rui Patrício, Daniel Carriço ou Fábio Coentrão - na fase de grupos.
9 de Fevereiro
O próximo jogo da Espanha está agendado para 9 de Fevereiro, no Estádio Santiago Bernabéu, casa do Real Madrid, contra a Colômbia. É uma partida cuja receita reverte a favor do sindicato de jogadores do país vizinho. E tanto Roberto como Javi García estarão na expectativa de uma primeira convocatória.
Fonte: O Jogo