"Desde que Jesus entrou no Benfica nada voltou a ser como dantes!" A derrota frente ao FC Porto para a Supertaça não o traz preocupado – “isso era dantes, quando um percalço fazia baralhar as ideias de quem cá trabalhava…” Agora os tempos são outros. E ninguém como Minervino Pietra tem autoridade para falar do Benfica da forma como o faz.
Já digeriram a derrota de sábado passado?
"Sim. É passado. É passado! A nossa preocupação é o futuro e o futuro está aí já no jogo de domingo. Não é uma prestação menos conseguida que nos vai desviar dos nossos objectivos."
Mas vamos aceitar que os sócios e os adeptos ficaram claramente desiludidos com esta derrota frente ao FC Porto.
Admito que estivessem à espera de outro resultado. Como todos nós. Mas temos a plena consciência de que de vez em quando acontecem acidentes de percurso. Foi o caso. Mas também sabemos do que são capazes estes jogadores do Benfica. Daquilo que eles foram capazes de fazer muito recentemente, mais concretamente na última época. O valor está lá. Existe uma ideia desde o princípio. Toda a gente sabe das responsabilidades que tem. Os objectivos estão claramente definidos. É nossa convicção, muito forte, de que vamos ser bicampeões. Porque esse é o nosso primeiro grande objectivo. E depois... ir o mais longe possível na Liga dos Campeões. Os jogadores sabem perfeitamente que os adeptos vêm ao encontro da equipa graças às boas prestações que possam fazer. Foi o que aconteceu na época passada. Foram estes mesmos jogadores que fizeram com que tivéssemos grandes enchentes. Tanto no Estádio da Luz como pelo País fora. Contamos com o apoio dos adeptos.
Não tens medo que este resultado e esta exibição afastem gente do jogo com a Académica?
Não! De maneira nenhuma. O que posso dizer aos sócios é que acreditem no grupo de trabalho, há muita qualidade no trabalho que se está a fazer no Benfica, a começar no presidente que nos deixa tranquilos, no director desportivo que está sempre presente e num treinador que está acima de qualquer dúvida ou suspeita. Existe uma ideia. Todos os elementos que constituem este grupo, desde staff técnico, médico, etc., bem como os jogadores, sabem qual é a ideia. Não temos a menor dúvida que vamos conseguir tão bem ou melhor do que no ano passado. Não é por causa de uma situação menos favorável que iríamos deixar de acreditar. Todo o trabalho é de um grande rigor e toda a gente sabe qual é o caminho. Mas os jogadores também sabem que para voltarmos a conseguir aquilo que, com muito mérito, eles conseguiram dentro das quatro linhas, precisam de estar sempre no máximo, nos limites. Nos treinos e nos jogos. Aqui não se trabalha em cima do joelho. Cada um sabe o seu papel. Estamos todos unidos e os resultados vão aparecer naturalmente.
Consegues perceber, agora depois de alguns dias passados, porque é que a equipa não funcionou?
"É difícil… é difícil… quando o trabalho que é desenvolvido até ao jogo é de qualidade, quando existe uma enorme união entre todos, não é fácil, em função de uma prestação menos conseguida, entender os porquês. O rigor, a seriedade e o trabalho estavam lá. Há jogos que não têm explicação. Sabemos por experiência própria que não há equipa nenhuma no mundo que consiga manter sempre a bitola no máximo. O que eu posso dizer, e de uma forma muito directa e muito pessoal, é o seguinte: desde que o Jorge Jesus entrou no Benfica nada voltou a ser como dantes. E é isso que eu digo aos sócios do Benfica: nada é como dantes!"
Não há o receio que esta derrota tenha consequências desastrosas?
Não! De maneira nenhuma! É isso que estou a tentar dizer. Há uma filosofia, há uma ideia. O trabalho não é feito jogo a jogo. Desde que esta equipa técnica aqui chegou foi transmitida aos jogadores uma ideia. E toda a gente a conhece. Há um trabalho em profundidade, há uma ideia muito forte do treinador que vem da época passada, não estamos minimamente preocupados em relação ao futuro porque os jogadores interiorizaram isto e sabem qual é o papel de cada um. Não nos desviamos desse rumo por causa de um mau resultado. Num passado recente, uma derrota como esta poderia abrir fracturas porque eram tentados a desviar-se para outras ideias. Isso para nós é motivo de uma grande segurança: não nos desviamos do caminho. A ideia é única! De toda a equipa. De todo o grupo!
O FC Porto surpreendeu-te?
"Não!"
Estavas à espera daquela equipa, daquele jogo?
"Sinceramente não me surpreendeu nada. Penso que não foi um jogo bem disputado, sem grande qualidade, o futebol praticado tanto por uma equipa como por outra foi pobre. De alguma forma isso é compreensível, era o primeiro jogo da época, alguns jogadores ainda fora de forma, novos elementos… Nem o Benfica fez um jogo tão mau, nem o FC Porto fez um jogo tão bom."
Olha, dois jogos seguidos e o Benfica não marcou um golo sequer... Eis algo a que não estamos habituados.
Essa é outra questão. E admito que o adepto se interrogue. Porquê? Porque a prestação da equipa nesse aspecto na época passada foi extraordinária. Mas fiquem tranquilos, fiquem descansados, acreditem no trabalho que se está a fazer. O passado recente vai continuar. Aquilo que se passou a época passada em qualidade de jogo vai seguramente acontecer esta época.
Mesmo sem os jogadores que perderam?
Sim. Não adianta agora dizer que saiu A ou B ou C e entraram S ou Z. A nossa preocupação é transmitir aos jogadores uma ideia de equipa. Essa ideia foi transmitida, mais uma vez para os que ficaram, pela primeira vez para os que chegaram e é nossa convicção firme de que os resultados vão aparecer. Por isso repito: não estamos preocupados com a exibição menos conseguida, não estamos preocupados pelo facto de não termos marcado golos porque aqui não se trabalha em cima do joelho. É um trabalho de grande profundidade, análise e responsabilidade. E temos jogadores que nos dão garantias de que podemos fazer uma época idêntica à do ano passado.
O inicio do campeonato do Benfica é terrível! Jogos complicados...
São todos! Mas são todos! Estamos preparados. Os próprios jogadores, através da sua qualidade é que vão mostrar aos sócios que vale a pena acreditar no trabalho que está a ser feito. Posso relembrar-te o seguinte: também na época passada começamos mal, em casa, com o Marítimo, depois de termos feito uma excelente pré-época. Noutros tempos seria motivo para haver por parte dos adeptos um descrédito grande. O que é um facto é que constataram que havia um novo Benfica. E veio-se a reflectir no seu apoio imediato. Portanto, não é por aí que vamos analisar as coisas. Nós se queremos que as coisas funcionem, iremos andar nos limites. Quer nos treinos quer nos jogos.
O que pelos visto preocupa os adeptos é a qualidade do novo guarda-redes, Roberto...
Muito bom guarda-redes! É a minha opinião, vale o que vale. Muito bom guarda-redes! Sabemos a grandeza do Benfica e sabemos também que às vezes as coisas correm bem e se elevam jogadores a patamares que não são autênticos...
Ele está a sentir as dúvidas dos adeptos?
Não! De maneira nenhuma. As preocupações dos adeptos são legítimas e naturais sobre qualquer jogador. Mas o importante, o fundamental é a opinião de uma pessoa: o treinador. E não tendo o treinador dúvidas nenhumas...
Este Benfica já tem algo do Benfica do teu tempo?
Uma coisa eu garanto: se no meu tempo tivéssemos uma componente tão elevada de treino táctico como existe agora, seguramente teríamos sido muito melhores. Às vezes vejo um ou outro jogo do tempo em que jogava e chego à conclusão de que alguns jogadores resolveram individualmente muitos jogos e muitos campeonatos. Não quero tirar mérito a alguns dos treinadores que passaram pelo Clube, mas parece-me claro que se tivéssemos tido outro tipo de trabalho táctico tínhamos sido melhores jogadores.
Achas que terá chegado o momento em que o Benfica pode voltar a dominar o futebol português?
Sim sim. Desde a entrada de Jesus que me apercebi que tudo ia mudar. Há uma ideia muito forte assente num rigor e numa capacidade de trabalho e todos os jogadores sabem o que têm de fazer para vestirem esta camisola. Daí a minha tranquilidade em relação ao futuro. Uma tranquilidade pessoal que quero passar para os sócios e para os adeptos.
Há algo que certamente os observadores não sabem. Qual o sistema táctico que Jesus vai aplicar. Neste início de época já experimentou dois. Sem falar das «nuances» de cada um...
Então digo-te muito directamente: não sabem nem vão saber! Não é isso que interessa. O que interessa são as vitórias e, se possível, com grande qualidade. Foi o que aconteceu na época passada. Os sócios não se vão preocupar com os sistemas de jogo. Felizmente temos jogadores que podem ser utilizados em vários sistemas. Os sócios que se preocupem com as vitorias. Porque essa é a musica do Benfica, é isso mesmo. Vitorias! Os jogadores também sabem e é isso que vamos implantar cada vez mais neles.