JOSÉ MOURINHO demorou uns bons dois meses a reagir à contratação pelo FC Porto para o cargo de treinador principal do seu apregoado absolutamente-indispensável ex-parceiro de equipa técnica, André Villas Boas.
«Como eu costumo dizer, no futebol já nada me surpreende», foi, finalmente, o comentário do treinador bi-campeão europeu que fez questão de solicitar, muito diplomaticamente, aos comentadores e opinadores de serviço que parassem de «fazer comparações» entre os dois porque quando ele, Mourinho, foi para o FC Porto «já tinha trabalho de campo feito, o que é bastante diferente».
Também é verdade que quando José Mourinho foi contratado pelo Benfica, uma década atrás, rebentou grosso escândalo porque o então jovem licenciado nunca tinha sido treinador principal em clube nenhum. E até de tradutor foi chamado, como certamente todos estarão recordados. Mas José Mourinho chegou à Luz com muito, muito e bom «trabalho de campo» produzido, ao longo de um número não menosprezável de temporadas e como adjunto de banco de técnicos não menos menosprezáveis como Bobby Robson e Louis Van Gaal.
Raramente José Mourinho deixou escapar uma oportunidade de alfinetar o FC Porto, onde, praticamente, ganhou tudo o que havia para ganhar, dentro e fora de portas e com um poderio tal que, como seria de esperar, dali voou para campeonatos de outra dimensão, bem superior, voltando a conquistar tudo o que havia para ganhar.
Nesta última grande entrevista de José Mourinho torna-se difícil adivinhar qual o tipo de alfinetada que mais feriu o coração do Dragão. Se a distância a que colocou André Villas Boas se as considerações altamente elogiosas sobre o Benfica que inicia agora a sua segunda época com Jorge Jesus no comando.
Frases como «seria normal ver o Benfica de novo campeão» ou «o Benfica vai lutar pela Champions» não podem deixar de incomodar profundamente os dirigentes e os adeptos do FC Porto, já que os técnicos e os jogadores, como se sabe, enfim, entram e saem e não têm com o clube a relação de fidelidade que se exige a quem o dirige e a quem o ama.
Como benfiquista, entendi as palavras de José Mourinho como afáveis e moralizantes. Talvez excessivamente moralizadoras para um clube que não consegue ganhar dois campeonatos consecutivos há muito, muito tempo e que, neste início de época, só tem a recear os perigos de confiança em demasia e do optimismo cantarolante.
E, assim sendo, foi com grande alívio, sentido das proporções e bom senso que recebi a derrota do Benfica frente ao Tottenham, pela diferença mínima, no jogo da Eusébio Cup, na terça-feira.
No culminar de mais uma pré-temporada plena de vitórias, troféus e golos às carradas, era fundamental um valente tropeção antes do arranque da época oficial.
E agora, sim. Todos aos seus lugares que isto vai começar a ser a sério.
GILBERTO MADAIL não podia ter sido mais esclarecedor na conversa brevíssima que teve com os jornalistas depois das 4 horas de reunião com Carlos Queiroz na sede da Federação Portuguesa de Futebol.
Questionado sobre a continuidade do seleccionador nacional, respondeu com um claríssimo «não sei» que, em termos práticos, é a mesma coisa do que não dizer não quero.
Não é vontade que falta a Madaíl para despedir Queiroz. O que falta ao presidente da FPF é dinheiro. E muito dinheiro para ressarcir o técnico do incómodo de um contrato interrompido antes do seu termo legal.
Trata-se de uma situação lamentável e que, com Queiroz ou sem Queiroz, dificilmente não deixará de marcar o próximo objectivo da Selecção Nacional que é o torneio de apuramento para o Campeonato Europeu de 2012.
A dita campanha, ainda não tendo começado, já começou inquinada. São os absurdos do futebol português.
Também Carlos Queiroz foi avaro nas palavras depois da já inconsequentemente célebre reunião na FPF. «Não sou alcoólico nem atrasado mental», reclamou o treinador exibindo um atrevimento e uma desconsideração grosseira pelos atributos do suposto adversário, o que, para muitos, foi precisamente o que faltou ao futebol da Selecção na África do Sul.
Depois da impensável declaração pública do secretário de Estado da Juventude de Desportos, imputando a Queiroz omissões graves no que diz respeito à boa educação e à civilidade – esses pedregulhos basilares do nosso futebol, como se pode comprovar todos os dias através das escutas do Apito Dourado disponíveis no You Tube -, resta saber se sairá do Orçamento Geral do Estado a verba necessária a Madaíl para pagar a devida indemnização compensatória ao treinador que teve a ideia de contratar e que, agora, quer ver pelas costas.
Até lá, vamos andar nisto. Um ambiente espesso, troca de acusações cuidadosamente embrulhadas em metáforas mais ou menos inocentes, desconfiança entre as partes e o inevitável suspense de mais um inquérito interno que, a espaços, saberá resvalar para o público conforme for do interesse de uns e de outros.
Nada de menos empolgante, convenhamos, este banho-maria de indecisões tão à portuguesa.
No entanto, mais vale uma irresolução tão à portuguesa do que uma resolução tão à norte-coreana… Segundo a imprensa sul-coreana, Kim Jong-Hun, o seleccionador da Coreia do Norte, foi condenado a seis meses de trabalhos forçados na construção civil depois de ter sido interrogado durante seis horas pelo ministro dos Desportos, Park Myong-Choil, na sequência da desastrosa participação da equipa nacional do país no Mundial da África do Sul.
Ora aqui estão reuniões que são tudo menos inconclusivas. O treinador norte-coreano saiu acusado de ter «traído a confiança do Supremo Líder Kim Jong-II», foi direitinho de pá e picareta para o estaleiro mais próximo e acabou-se logo ali a conversa.
DE uma assentada, o Sporting vendeu os seus jovens promissores Moutinho e Veloso, encaixou o que lhe foi possível encaixar, e não foi assim tão pouco, e parte para a nova temporada com um meio campo mais adulto, bastante mais adulto.
Os percursos de João Moutinho no FC Porto e de Miguel Veloso no campeonato italiano, ao serviço do Génova, despertam a maior das curiosidades para 2010/2011.
Mas em Alvalade ficou ainda uma jovem promessa, Diogo Salomão, acabadinho de chegar do Real Massamá e que tem encantado os adeptos e a imprensa. A evolução de Salomão na sua primeira temporada como profissional vai ser, também, digna de toda atenção quer por parte dos sportinguistas quer, obviamente, por parte do FC Porto.
- Vamos deixá-lo lá pelos menos um ou dois anos a rodar, depois logo veremos se o vamos buscar ou não – como me disse um amigo portista ultra-confiante no histórico de excelentes relações comerciais entre os dois emblemas.
Autor: Leonor Pinhão
Fonte: A Bola