Primeiro foi o treino dominical, depois veio o jogo de preparação. Em dias consecutivos, dois sinais de que "há muito por fazer" também no que diz respeito à empatia entre a Seleção de Queiroz e a Nação que representa. Julgo que chegámos ao momento em que, acima de tudo, a equipa técnica e os jogadores portugueses precisam de apoio e de mimos, assim mesmo. Quase todos vêm de uma época desgastante ou, pior, de lesões complicadas. Necessitam de perceber ou, mais do que isso, de sentir em nome de quem lutam e o que vale para todos nós a caminhada deles na África do Sul. E, sem prejuízo da liberdade de expressão e de manifestação, não me parece que a coisa vá lá com assobios e apupos.
Por outras palavras, se o treino estipulado era de 50 minutos e estes foram cumpridos, haja paciência de quem garante ter esperado horas pela chegada dos craques. Importa agora que eles sigam o programa preparado e que não se dispersem nem perturbem. Ou seja, Queiroz tem a razão do seu lado. Poderia, ainda assim, explicar a um funcionário - Carlos Godinho, penso eu - que o exercício da diplomacia pode e deve ser praticado sempre que necessário e que é feio morder a mão de quem nos alimenta. Mais vale gastar algum tempo a explicar do que replicar com resmungos que não indiciam grande preparação ou um mínimo de preparação psicológica.
Mal esteve também Hugo Almeida, com a tirada infeliz que dava vantagem a quem ficasse em casa em vez de vir e assobiar. O povo da Covilhã fez-lhe a vontade e não lotou o campo em que Portugal defrontou Cabo Verde. Da partida propriamente dita, pouco há a reter, tendo em conta todas as condicionantes (regresso de lesionados, reencontro de quem não jogava junto há uns meses largos e chegou ao estágio "às pinguinhas", muitas reticências a meter o pé a doer). Esperava-se, é verdade, mais entusiasmo e mais atitude de quem está a um passo de viver uma aventura sempre aliciante para um profissional de futebol. Mas vivacidade e determinação foi algo que se viu exclusivamente a Fábio Coentrão e Nani. Ficamos resguardados à sombra da ideia de que "há muito por fazer". E, insisto, é preferível deixar as contas para o fim, em vez de colecionar já desanimados adjetivos.
Por agora, fico-me por dois desejos: que o próximo encontro possa mostrar muito mais e que a Seleção saiba puxar pelo apoio. A África do Sul é já amanhã.
NOTA - À hora a que escrevo, não sei se Jorge Jesus vai ou não referir (no Trio de Ataque da RTP-N) o desafio que lhe foi feito do Norte, história que correu os bastidores. Se não contar, revela-se um cavalheiro. Se contar, será reconhecido como homem de palavra. E vai carregar as nuvens para o lado do Dragão e de Jorge Nuno Pinto da Costa.
Autor: João Gobern
Fonte: Jornal Record