- Vi 40 a 50 mil pessoas em Buenos Aires quando fui campeão pelo River Plate, mas nada como o que aconteceu no centro de Lisboa. Falou-se em 200 mil e acredito, pois olhava para longe e continuava a ver gente. Incrível!
- Desde que cheguei ao Benfica comecei a perceber o benfiquista em si: a ansiedade que havia em festejar no fim. Foram maravilhosos ao longo da época e a equipa foi acompanhando esse enorme desejo de conquista. Andámos de mãos dadas com os adeptos na maneira de pensar.
- Depois de ter estado num Campeonato do Mundo e ouvir dentro do campo o hino da Argentina, com todo o país a olhar para nós, os momentos de festa que vivi no Benfica foi a melhor experiencia da minha carreira. Nunca vi tanto fervor e paixão por uma equipa.
- A semana anterior foi difícil. Lidar com um jogo tão importante quando estamos tão perto de ganhar um título… é normal começarmos a imaginar como vai ser… foram dias de muitas adrenalina mas a equipa esteve sempre à altura. Mesmo as ausências de jogadores importantes [Di María, Fábio Coentrão e Javi Garcia, por castigo] foram bem colmatadas, o que ajudou a mostrar o quão competitivo é o nosso plantel.
- Quando cheguei disse logo que vinha para ser campeão mas tenho de admitir que tudo me surpreendeu. Em primeiro lugar o grupo de jogadores que encontrei: muito humildes, com espírito ganhador, todos queriam ser campeões. Depois, a categoria das pessoas que trabalham com a equipa: Fisioterapeutas, médicos, tudo gente muito importante que não entra em campo mas que deve ser lembrada na hora dos festejos.
- Temos condições para continuar a ganhar nos próximos anos. Sabemos que não é fácil, pois a Liga portuguesa é complicada e ainda é mais difícil ganharmos da forma como o fizemos: oferecendo bons espectáculos, jogando bom futebol. Para nós, jogadores, o futebol que praticamos é o mais importante.
- A época que fiz superou as minhas expectativas. Vinha de uma temporada sem jogar sem e acima de tudo queria recuperar o nível físico, pois a vertente futebolística viria depois. Mas tudo superou o que pensava que iria alcançar, a nível individual e colectivo: porque formámos uma grandíssima equipa em apenas um ano. A equipa criava muitas oportunidades. Não digo que assim é fácil marcar golos porque fácil é para quem vê o jogo da bancada, mas no Benfica há muitos jogadores que podem oferecer aos avançados muitas bolas de golo.
- Fiquei oito ou nove anos a jogar sozinho na frente, o que não beneficia um jogador com as minhas características e com o meu físico. Sou mais de criar e quando não jogo assim falta-me algo. Voltar ao lugar onde jogava no River Plate beneficiou-me e beneficiou também a equipa. Sobre Jorge Jesus: “É um treinador diferenciado. Tal como Marcelo Bielsa [ex-treinador argentino de Saviola no River Plate], é alguém muito minucioso, atento a todos os detalhes, vive o futebol com uma paixão única. Sabe o que quer para a cada jogador, com ele todos têm de dar tudo dentro de campo, com ele não há hipótese de um jogador não se entregar. Esta época aprendi e vivi coisas muito bonitas. Coisas que há muito não fazia”.
Sobre o golo mais importante que marcou: “O que marquei ao FC Porto [vitória por 1-0, na Luz, a 20 de Dezembro de 2009]. Foi uma alegria imensa, toda a gente explodiu. O FC Porto vinha de muitos anos [quatro] a ganhar a Liga, marcando a diferença, e vencer aquele clássico foi uma demonstração de que nós podíamos fazer frente ao rival. Foi um triunfo importantíssimo para nós, jogadores, nos apercebermos que estávamos a formar uma equipa competitiva, que tal como o FC Porto nos anos anteriores também sabíamos praticar um bom futebol e ganhar ao mesmo tempo”. O momento mais importante da época: “Foram dois jogos, onde por acaso não participei: as vitórias frente ao Sporting e ao Sporting de Braga, principalmente esta, pois conseguimos ampliar a nossa vantagem para seis pontos e ficámos mais tranquilos. Porque a verdade é que o Sporting de Braga nunca nos deixou respirar ao longo da época, inclusive na última jornada, o que acaba por ser bom para o campeonato português. É importante aparecer uma equipa a disputar o título fora dos três grandes. O Vitória de Guimarães, põe exemplo, também poderá fazê-lo”.
Sobre uma possível saída: “ Não vejo razões para sair. Sinto-me bem no Benfica e também acho que as pessoas estão satisfeitas com o meu trabalho. Quando digo que no final de uma época tudo pode se avalia é porque no futebol vive-se muito o presente e de um momento para o outro as coisas podem mudar. Mas gosto de estar cá e quero continuar”.
Sobre os novos reforços argentinos do Benfica: “Sinceramente, nunca os vi jogar. Mas tenho amigos do meu país que me falaram bem deles”.
Sobre Aimar: “Ele é um dos responsáveis pela minha vinda para o Benfica. Aimar não é muito de dar detalhes mas quando começou a descrever-me ao pormenor o que era o clube, o apoio fervoroso dos adeptos, então percebi que era algo mesmo especial. Ainda por cima era a oportunidade de voltar a jogar com ele, nove anos depois”.
Sobre o pai já falecido: “Ele sempre me protegeu e só ficou descansado quando me viu bem na vida. Foi-lhe diagnosticado um cancro e os médicos deram-lhe quatro meses de vida, só que ele lutou e aguentou um ano. Quando assinei pelo Barcelona ele percebeu que eu tinha finalmente dado o grande passo da minha carreira, algo como ‘estás entregue’. Parece que ficou à espera que eu tomasse o meu rumo e só aí pôde, finalmente, descansar”.
Capítulo Benfica
- Sinceramente, não sou assim tão grande para se escreverem tantas coisas sobre mim. Mas reflecti no livro muitas das minhas vivências e também o que passei no Benfica.
- Um amigo do meu tio convidou-me para inaugurar um hospital na Formosa [província a nordeste da Argentina que faz fronteira com o Paraguai, a duas horas de avião de Buenos Aires] mas estive para não ir porque as negociações com o Benfica estavam muito avançadas. Só que seria muito mau ausentar-me porque estava preparada uma grande festa no hospital. As comunicações não são muito boas, mas após algum esforço conseguiram arranjar uma solução.Aí falei com Luís Filipe Vieira e Rui Costa. E Rui Costa disse-me: ‘Se marcares 15 ou 16 golos vamos ser campeoes’.