Qual é a sensação de ser campeão?
É uma sensação diferente. É mesmo espectacular. Sinto-me orgulhoso por ser campeão nacional aos 22 anos. Qualquer jogador sonha conquistar o título e eu consegui tornar esse sonho numa realidade. Toda a gente que passa por mim na rua dá-me os parabéns e eu sinto-me bastante orgulhoso.
Em que pensou assim que o árbitro Jorge Sousa deu por concluído o jogo com o Rio Ave?
A partir daí só pensei em comemorar. Dei por mim a pensar: “Finalmente sou campeão!” Há quatro jornadas que aguardava por aquele momento e já existia alguma ansiedade.
Alguma vez acreditou que iria desfilar pelas avenidas de Lisboa num autocarro?
Sim. Desde que vim para o Benfica sempre julguei que esse sonho se podia concretizar. Felizmente, alcancei-o logo na época em que regressei ao clube.
A sensação de estar num autocarro rodeado de um mar de gente é indescritível…
Claro! Aquilo só vivido. O Benfica tem muitos adeptos e eles proporcionaram-nos uma noite sensacional.
Como é que encarou o facto de ter ficado de fora do jogo do título?
Foi um momento complicado, pois tinha a noção que se tratava do jogo decisivo. Gostava de ter ajudado a equipa, mas mantive sempre a confiança nos companheiros. Passei bem o jogo na bancada.
Mas foi mais difícil…
Sim, foi um pouco mais difícil. Houve partes em que nem quis olhar para jogo. Quando o Rio Ave empatou resolvi ir dar uma volta.
Roeu as unhas?
Por acaso não tenho esse vício, mas confesso que estava um pouco nervoso.
A falta que cometeu no Dragão era merecedora de amarelo?
Se o árbitro assim o considerou… tudo bem!
Chegou a pensar após essa derrota que o campeonato podia dar para o torto?
Nunca pensamos nisso. Desde o jogo inaugural da época que acreditamos que nos sagraríamos campeões.
Esperava uma réplica tão grande do Sp. Braga?
Para falar a verdade não contava que o Sp. Braga dessa tanta luta. A equipa minhota esteve bem, mas o Benfica foi um justo campeão, ninguém pode colocar isso em causa.
O que pensava o balneário do Benfica quando ouvia falar no “caso” do túnel?
O plantel esteve sempre tranquilo, nem queria ouvir falar nisso. Era um assunto que dizia apenas respeito à direcção.
Pensa que foi uma desculpa de mau pagador por parte do FC Porto?
Sim, acho que foi uma desculpa de mau pagador. A equipa do Benfica saiu sempre tranquila ara os intervalos, excepção feita ao jogo com o Sp. Braga. Os jogadores adversários armaram a confusão, mas nós permanecemos serenos.
Viu alguma coisa?
Toda a gente viu o que se passou em Braga…
Luisão, Di María, Saviola e Cardozo. Qual deles teve o papel mais importante no título?
O Di María. Ajudou-nos bastante lá na frente. Todos nós demos um contributo importante, mas se tiver de nomear um jogador escolho o Di María.
Qual o momento que mais o marcou neste campeonato?
Foi a altura em que celebrei a conquista do título. Foi a festa, aquela alegria toda por Portugal fora.
Conta ir ao Marquês no próximo ano?
[risos] O Marquês de Pombal já está reservado!
Quando é que Jorge Jesus lhe disse que ia jogar na lateral-esquerda?
Lembro-me bem desse momento. Aconteceu logo no primeiro jogo da época. Ao intervalo do duelo com o Marítimo disse-me que se o jogo continuasse assim iria recuar no campo.
Qual foi a reacção?
Fiquei meio desorientado, pois nunca tinha actuado naquela posição. Contudo, ele deu-me toda a confiança e pediu-me para ficar tranquilo, pois iria correr tudo pelo melhor. Aliei a minha qualidade à confiança que ele me transmitiu e consegui uma boa época.
A adaptação foi complicada?
Foi um pouco difícil, pois nada conhecia acerca daquela posição. Segui os conselhos que o treinador me foi dando e deu tudo certo.
Também lhe deu alguns raspanetes?
Não foi só a mim, ele deu raspanetes a todos os jogadores. E isso é muito positivo. Aborrecido é quando um mister nem sequer fala connosco. Ele está sempre a conversar connosco, sendo um claro sinal que nos dá importância e se interessa por nós. Isso é bom.
Sentiu-se protegido por jogar bem perto de David Luiz?
David Luiz foi um daqueles jogadores que me ajudaram muito. Quando eu estava mal ele dava-me indicações. Agradeço-lhe bastante pelo auxílio que sempre me prestou.
Sente-se o melhor lateral-esquerdo a actuar em Portugal?
Confio nas minhas qualidades. Não vou estar para aqui a dizer que “A” ou “B” são melhores do que eu. Para mim, eu sou o melhor em Portugal!
Como foi o seu entendimento com Di María?
Ele é um jogador tão bom que ao lado dele só não joga bem quem não souber mesmo jogar à bola. Como é fantástico facilitou-me bastante a vida. Em termos ofensivos eu não precisava de subir muito, porque ele sozinho tratava bem do assunto. A defender já eu tinha que entrar mais em acção, mas entendemo-nos sempre bem.
Se ele sair a equipa fica mais fraca?
Não. O Benfica tem excelentes jogadores, o plantel está muito bem apetrechado. Claro que vamos sentir um pouco a sua falta, mas o Benfica irá saber encontrar alguém que cumpra aquele papel.
Até pode ser você…
Talvez, quem sabe…
Qual foi a primeira impressão que teve de Jorge Jesus?
Vi logo que era um bom treinador pela forma como orientava as sessões de trabalho. Fiquei logo com essa sensação no primeiro dia.
Foi o melhor treinador com que trabalhou até ao momento?
Sem dúvida! Até hoje não havia sido dirigido por um treinador desta qualidade.
Melhorou após esta passagem pelas mãos dele?
Não foi só por ter passado pelas mãos dele que melhorei, mas sem dúvida que ele deu um importante contributo para essa evolução. É também por causa dele que hoje sou aquilo que sou.
Podemos compará-lo a José Mourinho?
Claro que sim. Por que não? É um excelente treinador e quem sabe se daqui a dois ou três anos não possamos compará-lo a José Mourinho em termos de Títulos.
Ele é demasiado duro?
È duro, mas qualquer treinador tem que ser assim. Valeu a pena ouvir aquilo que ele tinha para nos dizer, pois a verdade é que era complicado pegar no Benfica naquela situação.
A equipa voltava sempre mais forte do intervalo. Qual era o segredo?
O mister é que sabia, ele é que nos dizia o que tínhamos que fazer para dar a volta a um resultado. No entanto, o segredo é a alma do negócio…
Considera-o uma espécie de pai a nível Professional?
Gosto dele e ele gosta de mim e da minha forma de jogar. Admiro-o imenso, pois foi ele que me deu a oportunidade de me afirmar no Benfica. Estar-lhe-ei eternamente grato.
Ele deve ficar muito tempo no Benfica?
O Benfica precisa de um treinador como ele. Se ficar será muito bom.
O seu futuro passa pelo Benfica?
Sim. Sou jogador do Benfica, tenho contrato com o clube e só quero manter-me por aqui. Estou no maior clube português e num dos melhores do Mundo.
Ambiciona dar o salto?
Neste momento não penso nisso. Estou apenas focado no Benfica. Gosto do Benfica, sinto-me muito bem.
Como se vê daqui a 10 anos?
Daqui a 10 anos? Contando com aquele que acabei de conquistar… Vejo-me com 11 títulos nas mãos!
Que conselho dá a Fábio Faria, que vai sair agora do Rio Ave para o Benfica?
Que não vá para o Benfica… Como eu fui aos 19 anos! Pensei que já tinha tudo e quando dei por isso ainda não tinha nada nas mãos. Mas eu vou lá estar para o ajudar em tudo o que for necessário. Ele vai ser meu vizinho e estarei sempre com ele para não passar por aquilo que eu passei, de início. Vou abrir-lhe bem os olhos!
Conhece o Jara e o Gaitán?
Nunca os vi jogar…
Alguma vez jogou em África?
Nunca lá estive.
Pediu conselhos a Mantorras?
Por acaso não.
Quais são as expectativas a nível individual e colectivo para o Mundial?
Estou confiante. Vou trabalhar para ser uma opção. Em termos colectivos toda a gente sabe que Portugal tem excelentes jogadores, de elevada craveira. Tudo é possível. É necessário manter a humildade dentro de campo e dar o máximo.
O que seria um bom Mundial?
Ganhar o Campeonato do Mundo!
E um mau Mundial?
Chegar… às meias-finais!
Estava à espera de ser convocado?
No início da época não, porque ainda estava a tentar afirmar-me no Benfica. Com o decorrer do tempo fui acreditando, dado que as coisas me estavam a correr favoravelmente na lateral-esquerda. Pensei muitas vezes: “Portugal não tem um lateral-esquerdo de origem, quem sabe se não posso ser eu”. Trabalhei imenso e felizmente estou na África do Sul.
Como é que recebeu a notícia da convocatória?
Assisti pela televisão. Veio logo por mim acima um enorme sentimento de felicidade. Quando ouvi o meu nome até estremeci.
Pensa que podia ter a companhia de mais alguns benfiquistas?
Temos um seleccionador. Acho que ele escolheu os 24 que pensa serem os melhores para este campeonato.
Acredita que pode ser titular?
Claro que sim! Depois de me ver incluído nos 24… ambiciono tudo! Vou à África do Sul para ajudar a selecção. Se o mister achar que não devo ser opção torcerei por fora. Não são só os 11 que estão dentro de campo que são campeões.
A época foi muito exigente e desgastante. Tem condições para dar uma boa resposta?
Só tenho 22 anos. Quero é correr e ter uma bola nos pés…
Qual é o adversário mais perigoso?
O Brasil!
Deu algum recado a Luisão e a Ramires?
Sim, na brincadeira. Avisei o Luisão para ter cuidado porque eu ia para cima dele.
Já pensou que lhe pode surgir o Drogba pela frente?
Não ligo muito aos nomes. Só penso em jogar à bola, quem quer que esteja à minha frente.
Não é difícil fazer uma época melhor do que aquela que acabou?
Não é difícil fazer melhor. Difícil era ganhar o campeonato após quatro anos sem o conseguir. Demos a volta por cima, agora só temos que nos manter lá no alto.
Isso passa também por uma vitória na Champions?
Claro que sim! O mister já disse que vamos lutar pela conquista da Liga dos Campeões. Tudo é possível!
Jorge Jesus dá prioridade à Champions. Concorda?
Partilho da opinião dele. A Liga dos Campeões é a melhor competição do Mundo, sendo um sonho para qualquer jogador conquista-la. Eu não fujo à regra. Também a quero conquistar.
A visita ao Dragão foi bastante complicada…
Sim, foi um pouco complicada. Gostaríamos de ter festejado o título no Dragão, mas não foi possível. O mais importante é termos acabado por ser campeões.
Que confusão foi aquela na viagem para o estádio?
Foi um momento complicado, mas o grupo já sabia que ia ser assim. As pessoas do Porto deviam pensar de maneira um pouco diferente, pois o futebol tem de ser festa e não violência.
Qual foi a sensação de quem ia no autocarro do Benfica naquele momento?
Tivemos um pouco de medo, porque eram muitas pedras a bater nos vidros. Sabíamos que podia acontecer alguma coisa grave mas felizmente isso não se verificou.
Seguiam então um pouco assustados…
Sem dúvida!