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Toda a informação sobre o Glorioso

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Toda a informação sobre o Glorioso

Jorge Jesus até 2013

14.05.10, Benfica 73

Comunicado:

«A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD, em cumprimento do disposto no artigo 248.º do Código dos Valores Mobiliários, vem informar que acabou de formalizar acordo para prolongar o contrato de trabalho desportivo celebrado com o seu treinador Jorge Fernando Pinheiro de Jesus, por mais duas épocas desportivas, ou seja, até 30 de Junho de 2013.»

Fábio Coentrão - Entrevista

14.05.10, Benfica 73

Qual é a sensação de ser campeão?

É uma sensação diferente. É mesmo espectacular. Sinto-me orgulhoso por ser campeão nacional aos 22 anos. Qualquer jogador sonha conquistar o título e eu consegui tornar esse sonho numa realidade. Toda a gente que passa por mim na rua dá-me os parabéns e eu sinto-me bastante orgulhoso.

Em que pensou assim que o árbitro Jorge Sousa deu por concluído o jogo com o Rio Ave?

A partir daí só pensei em comemorar. Dei por mim a pensar: “Finalmente sou campeão!” Há quatro jornadas que aguardava por aquele momento e já existia alguma ansiedade.

Alguma vez acreditou que iria desfilar pelas avenidas de Lisboa num autocarro?

Sim. Desde que vim para o Benfica sempre julguei que esse sonho se podia concretizar. Felizmente, alcancei-o logo na época em que regressei ao clube.

A sensação de estar num autocarro rodeado de um mar de gente é indescritível…

Claro! Aquilo só vivido. O Benfica tem muitos adeptos e eles proporcionaram-nos uma noite sensacional.

Como é que encarou o facto de ter ficado de fora do jogo do título?

Foi um momento complicado, pois tinha a noção que se tratava do jogo decisivo. Gostava de ter ajudado a equipa, mas mantive sempre a confiança nos companheiros. Passei bem o jogo na bancada.

Mas foi mais difícil…

Sim, foi um pouco mais difícil. Houve partes em que nem quis olhar para  jogo. Quando o Rio Ave empatou resolvi ir dar uma volta.

Roeu as unhas?

Por acaso não tenho esse vício, mas confesso que estava um pouco nervoso.

A falta que cometeu no Dragão era merecedora de amarelo?

Se o árbitro assim o considerou… tudo bem!

Chegou a pensar após essa derrota que o campeonato podia dar para o torto?

Nunca pensamos nisso. Desde o jogo inaugural da época que acreditamos que nos sagraríamos campeões.

Esperava uma réplica tão grande do Sp. Braga?

Para falar a verdade não contava que o Sp. Braga dessa tanta luta. A equipa minhota esteve bem, mas o Benfica foi um justo campeão, ninguém pode colocar isso em causa.

O que pensava o balneário do Benfica quando ouvia falar no “caso” do túnel?

O plantel esteve sempre tranquilo, nem queria ouvir falar nisso. Era um assunto que dizia apenas respeito à direcção.

Pensa que foi uma desculpa de mau pagador por parte do FC Porto?

Sim, acho que foi uma desculpa de mau pagador. A equipa do Benfica saiu sempre tranquila ara os intervalos, excepção feita ao jogo com o Sp. Braga. Os jogadores adversários armaram a confusão, mas nós permanecemos serenos.

Viu alguma coisa?

Toda a gente viu o que se passou em Braga…

Luisão, Di María, Saviola e Cardozo. Qual deles teve o papel mais importante no título?

O Di María. Ajudou-nos bastante lá na frente. Todos nós demos um contributo importante, mas se tiver de nomear um jogador escolho o Di María.

Qual o momento que mais o marcou neste campeonato?

Foi a altura em que celebrei a conquista do título. Foi a festa, aquela alegria toda por Portugal fora.

Conta ir ao Marquês no próximo ano?

[risos] O Marquês de Pombal já está reservado!

Quando é que Jorge Jesus lhe disse que ia jogar na lateral-esquerda?

Lembro-me bem desse momento. Aconteceu logo no primeiro jogo da época. Ao intervalo do duelo com o Marítimo disse-me que se o jogo continuasse assim iria recuar no campo.

Qual foi a reacção?

Fiquei meio desorientado, pois nunca tinha actuado naquela posição. Contudo, ele deu-me toda a confiança e pediu-me para ficar tranquilo, pois iria correr tudo pelo melhor. Aliei a minha qualidade à confiança que ele me transmitiu e consegui uma boa época.

A adaptação foi complicada?

Foi um pouco difícil, pois nada conhecia acerca daquela posição. Segui os conselhos que o treinador me foi dando e deu tudo certo.

Também lhe deu alguns raspanetes?

Não foi só a mim, ele deu raspanetes a todos os jogadores. E isso é muito positivo. Aborrecido é quando um mister nem sequer fala connosco. Ele está sempre a conversar connosco, sendo um claro sinal que nos dá importância e se interessa por nós. Isso é bom.

Sentiu-se protegido por jogar bem perto de David Luiz?

David Luiz foi um daqueles jogadores que me ajudaram muito. Quando eu estava mal ele dava-me indicações. Agradeço-lhe bastante pelo auxílio que sempre me prestou.

Sente-se o melhor lateral-esquerdo a actuar em Portugal?

Confio nas minhas qualidades. Não vou estar para aqui a dizer que “A” ou “B” são melhores do que eu. Para mim, eu sou o melhor em Portugal!

Como foi o seu entendimento com Di María?

Ele é um jogador tão bom que ao lado dele só não joga bem quem não souber mesmo jogar à bola. Como é fantástico facilitou-me bastante a vida. Em termos ofensivos eu não precisava de subir muito, porque ele sozinho tratava bem do assunto. A defender já eu tinha que entrar mais em acção, mas entendemo-nos sempre bem.

Se ele sair a equipa fica mais fraca?

Não. O Benfica tem excelentes jogadores, o plantel está muito bem apetrechado. Claro que vamos sentir um pouco a sua falta, mas o Benfica irá saber encontrar alguém que cumpra aquele papel.

Até pode ser você…

Talvez, quem sabe…

Qual foi a primeira impressão que teve de Jorge Jesus?

Vi logo que era um bom treinador pela forma como orientava as sessões de trabalho. Fiquei logo com essa sensação no primeiro dia.

Foi o melhor treinador com que trabalhou até ao momento?

Sem dúvida! Até hoje não havia sido dirigido por um treinador desta qualidade.

Melhorou após esta passagem pelas mãos dele?

Não foi só por ter passado pelas mãos dele que melhorei, mas sem dúvida que ele deu um importante contributo para essa evolução. É também por causa dele que hoje sou aquilo que sou.

Podemos compará-lo a José Mourinho?

Claro que sim. Por que não? É um excelente treinador e quem sabe se daqui a dois ou três anos não possamos compará-lo a José Mourinho em termos de Títulos.

Ele é demasiado duro?

È duro, mas qualquer treinador tem que ser assim. Valeu a pena ouvir aquilo que ele tinha para nos dizer, pois a verdade é que era complicado pegar no Benfica naquela situação.

A equipa voltava sempre mais forte do intervalo. Qual era o segredo?

O mister é que sabia, ele é que nos dizia o que tínhamos que fazer para dar a volta a um resultado. No entanto, o segredo é a alma do negócio…

Considera-o uma espécie de pai a nível Professional?

Gosto dele e ele gosta de mim e da minha forma de jogar. Admiro-o imenso, pois foi ele que me deu a oportunidade de me afirmar no Benfica. Estar-lhe-ei eternamente grato.

Ele deve ficar muito tempo no Benfica?

O Benfica precisa de um treinador como ele. Se ficar será muito bom.

O seu futuro passa pelo Benfica?

Sim. Sou jogador do Benfica, tenho contrato com o clube e só quero manter-me por aqui. Estou no maior clube português e num dos melhores do Mundo.

Ambiciona dar o salto?

Neste momento não penso nisso. Estou apenas focado no Benfica. Gosto do Benfica, sinto-me muito bem.

Como se vê daqui a 10 anos?

Daqui a 10 anos? Contando com aquele que acabei de conquistar… Vejo-me com 11 títulos nas mãos!

Que conselho dá a Fábio Faria, que vai sair agora do Rio Ave para o Benfica?

Que não vá para o Benfica… Como eu fui aos 19 anos! Pensei que já tinha tudo e quando dei por isso ainda não tinha nada nas mãos. Mas eu vou lá estar para o ajudar em tudo o que for necessário. Ele vai ser meu vizinho e estarei sempre com ele para não passar por aquilo que eu passei, de início. Vou abrir-lhe bem os olhos!

Conhece o Jara e o Gaitán?

Nunca os vi jogar…

Alguma vez jogou em África?

Nunca lá estive.

Pediu conselhos a Mantorras?

Por acaso não.

Quais são as expectativas a nível individual e colectivo para o Mundial?

Estou confiante. Vou trabalhar para ser uma opção. Em termos colectivos toda a gente sabe que Portugal tem excelentes jogadores, de elevada craveira. Tudo é possível. É necessário manter a humildade dentro de campo e dar o máximo.

O que seria um bom Mundial?

Ganhar o Campeonato do Mundo!

E um mau Mundial?

Chegar… às meias-finais!

Estava à espera de ser convocado?

No início da época não, porque ainda estava a tentar afirmar-me no Benfica. Com o decorrer do tempo fui acreditando, dado que as coisas me estavam a correr favoravelmente na lateral-esquerda. Pensei muitas vezes: “Portugal não tem um lateral-esquerdo de origem, quem sabe se não posso ser eu”. Trabalhei imenso e felizmente estou na África do Sul.

Como é que recebeu a notícia da convocatória?

Assisti pela televisão. Veio logo por mim acima um enorme sentimento de felicidade. Quando ouvi o meu nome até estremeci.

Pensa que podia ter a companhia de mais alguns benfiquistas?

Temos um seleccionador. Acho que ele escolheu os 24 que pensa serem os melhores para este campeonato.

Acredita que pode ser titular?

Claro que sim! Depois de me ver incluído nos 24… ambiciono tudo! Vou à África do Sul para ajudar a selecção. Se o mister achar que não devo ser opção torcerei por fora. Não são só os 11 que estão dentro de campo que são campeões.

A época foi muito exigente e desgastante. Tem condições para dar uma boa resposta?

Só tenho 22 anos. Quero é correr e ter uma bola nos pés…

Qual é o adversário mais perigoso?

O Brasil!

Deu algum recado a Luisão e a Ramires?

Sim, na brincadeira. Avisei o Luisão para ter cuidado porque eu ia para cima dele.

Já pensou que lhe pode surgir o Drogba pela frente?

Não ligo muito aos nomes. Só penso em jogar à bola, quem quer que esteja à minha frente.

Não é difícil fazer uma época melhor do que aquela que acabou?

Não é difícil fazer melhor. Difícil era ganhar o campeonato após quatro anos sem o conseguir. Demos a volta por cima, agora só temos que nos manter lá no alto.

Isso passa também por uma vitória na Champions?

Claro que sim! O mister já disse que vamos lutar pela conquista da Liga dos Campeões. Tudo é possível!

Jorge Jesus dá prioridade à Champions. Concorda?

Partilho da opinião dele. A Liga dos Campeões é a melhor competição do Mundo, sendo um sonho para qualquer jogador conquista-la. Eu não fujo à regra. Também a quero conquistar.

A visita ao Dragão foi bastante complicada…

Sim, foi um pouco complicada. Gostaríamos de ter festejado o título no Dragão, mas não foi possível. O mais importante é termos acabado por ser campeões.

Que confusão foi aquela na viagem para o estádio?

Foi um momento complicado, mas o grupo já sabia que ia ser assim. As pessoas do Porto deviam pensar de maneira um pouco diferente, pois o futebol tem de ser festa e não violência.

Qual foi a sensação de quem ia no autocarro do Benfica naquele momento?

Tivemos um pouco de medo, porque eram muitas pedras a bater nos vidros. Sabíamos que podia acontecer alguma coisa grave mas felizmente isso não se verificou.

Seguiam então um pouco assustados…

Sem dúvida!

A derrota que dói

14.05.10, Benfica 73

Jorge Jesus construiu mesmo o melhor Benfica em mais de 20 anos, com vantagem estatística em todos os itens da Liga Sagres (por exemplo, mais 30 golos marcados que o Sporting de Braga). Luís Filipe Vieira bem pode aplicar todo o engenho em segurar o treinador, que foi de Jesus o toque de Midas que transformou vermelho em ouro. E esta foi mais que uma vitória para o Benfica, foi mesmo “a vitória”. Porque categórica, ao contrario da de Trapattoni em que houve essencialmente demérito da concorrência, mas também porque indispensável ao projecto de Vieira que tão questionado era no quente momento pré-eleitoral do ano passado. Internamente, a oposição apagou-se ao ver o Benfica vencer (vencer), Rui Costa está regenerado e Vieira surge como o homem que acabou por ter razão. No futebol só se tem razão quando se ganha.

Por isso ninguém tem razão no Sporting e no Porto este ano. E a análise do fracasso dos rivais tem de ser indexada, a meu ver em primeira lugar, ao sucesso do Benfica. O Sporting, com uma estrutura mais frágil e um plantel de inferiores soluções, foi o primeiro a sofrer com o arranque fulgurante do rival de sempre. Paulo Bento admitiu-o na hora da saída. Carlos Carvalhal sofreu com isso e nem a grande dignidade demonstrada impediu uma desvantagem histórica de 28 pontos.

O FC Porto demorou a acreditar que este Benfica era diferente. O estado de negação foi evidente e foi fatal. Notou-se no discurso dos jogadores (que diziam não ver os jogos do rival), dos principais comentadores clubistas (que vaticinaram durante largos meses a queda da equipa de Jesus) e até de Pinto da Costa (que identificou o Braga como grande adversário do Porto). Foi uma sucessão de erros de quem estava habituado a ter razão no fim. Até Jesualdo Ferreira, quando disse que este ano lhe ia dar mais gozo ganhar, alinhou nessa presunção resultante do hábito de que acabaria por ganhar. Que de facto, no futebol, só se tem razão quando se ganha. Quem ganha festeja e quem perde justifica e este ano inverteram-se os papéis. Precisamente no ano em que o Benfica tinha gasto a última reserva dos seus imaginativos financiamentos (com o fundo de jogadores). É isso que mais deve doer a Pinto da Costa. Sentir que falhou a estocada final no adversário de uma vida. Sem esta vitória o Benfica de Vieira poderia estar moribundo. Com ela está forte como nunca.

P.S. Carlos Queiroz escolheu todos os jogadores essenciais – dos que dei aqui como certos não falhei nenhum – mas cometeu erros (Daniel Fernandes é flagrante) nas opções alternativas. Afinal, um pouco com noutros tempos, Quim e Carlos Martins – que deviam estar nos eleitos e nem nos 6 suplentes surgem – estavam mesmo riscados à partida, e o mérito teve menos peso que o anunciado. É o que diz o esquecimento dos dois citados mas também de Daniel Carriço, Rúben Amorim ou Nuno Assis.

Para o ano vamos gritar 33

14.05.10, Benfica 73

Este título do Benfica serviu para mostrar ao Portugal desportivo um Benfica de invulgar classe. Um dos melhores dos últimos 40-anos. Este ano fomos quem mais golos marcou (mais 30 golos que o segundo classificado), quem menos golos sofreu e quem teve o melhor marcador da Liga (mesmo cansado, ao pé coxinho, e a falhar quatro penalties). Claramente o único campeão possível, tal a diferença para a concorrência tradicional que só um super Sp. Braga conseguiu manter alguma emoção sobre um desfecho obrigatório.

Quando o Rio Ave marcou na Luz houve quem visse para além da realidade, mas Óscar Cardozo demorou poucos minutos a afundar o adversário directo algures no meio do atlântico, e os que já não eram nada há muito tempo tiveram apenas tempo de desligar a televisão e não ver milhões em festa.

Aimar, Saviola, Cardozo, Ramires, Di María e alguns mais são de outro mundo quando comparados com a concorrência directa, mesmo que haja quem ainda chore, como no Beira-Mar de Fary, por não ter conseguido alguma coisita extra.

Esta Benfica teve uma média de pontos superior (sem fruta nem café com leite) ao melhor FC Porto de Mourinho, e o melhor FC Porto de Mourinho jogava muito futebol.

Neste Benfica há muitos méritos mas o maior de todos chama-se Jorge Jesus, que soube com a administração da SAD construir uma equipa vencedora. Numa época em que se consegue dois títulos, facto que há muito tempo não sucedia, resta saborear e preparar a revalidação do campeonato com afinco.

No ano passado perdemos Katsouranis, Reyes e Suazo e fizemos com as novas aquisições um plantel equilibrado e com qualidade. Este ano Jorge Jesus saberá com mais tempo e mais dinheiro fazer ainda melhor. Porque no Benfica vencer é a regra e perder a excepção, em Maio de 2011 haverá outra vez milhões em festa, a gritar 33.

Autor: Sílvio Cervan

Fonte: Jornal A Bola